O ARRANQUE DOS «PEREGRINOS» DE BOSTON
O mais alto escalão do futebol britânico está a léguas de distância de Boston. A recente despromoção da turma de Taylor para a terceira divisão dos distritais (decorrente de problemas financeiros) obriga este manager de 55 anos a repensar objectivos, orçamentos e a gerir todo um processo motivacional dos seus pupilos. Estes parecem aceitar mais um desafio para o clube de York Street: treinam com afinco e com um sorriso no rosto, tudo potenciado pela boa disposição do treinador.
653 pessoas preenchiam timidamente um Staffsmart Stadium com lotação para mais de 6000 adeptos. Agosto brindava-os com um final de tarde chuvoso e frio, a um dia de semana, mas nem as adversidades os afastaram de mais um jogo do United. A seu favor tinham os preços dos ingressos, fixados numas apelativas cinco libras, e o facto de muitos deles trazerem consigo verdadeiras refeições. Uma família que se deslocou desde Hull para apoiar a sua equipa entrou na bancada principal trazendo na mala café, bolinhos doces e sandes variadas e ali montou o seu “lar”. Mesmo que por umas efémeras duas horas. Os restantes, aguçados pelo cheiro a comida e vendo a hora de jantar a aproximar-se, renderam-se aos hambúrgueres que os bares vendiam.
Entretanto, o jogo arrancava. Intenso ao máximo, digno de um defeso onde as oportunidades tocam a todos, onde os jogadores se mostram e apostam tudo num estatuto de titular ao longo de uma época que se quer regular. As linhas defensivas bem altas, de parte a parte, permitiam espaço de sobra para a bola rolar e os fãs dos dois clubes entusiasmavam-se. Wright, guarda-redes do Boston, voa para uma defesa vistosa e o primeiro frisson do jogo ouve-se, em uníssono. Enquanto Tommy Taylor e Phil Brown, técnico do Hull City, trocam sorrisos e palavras bem-humoradas, os adeptos deleitam-se com a magia do jovem Kieron Leabon, um ás na ala-direita, e contraem-se com as entradas pouco ortodoxas do veterano Talbot, ambos do lado da casa.
As análises dos «treinadores de bancada» também se fazem ouvir. As novas caras escalpelizadas ao mais ínfimo pormenor, as opções de cada treinador – acertadas ou falhadas? -, o mau passe que deixa o eixo defensivo “aos papéis”. Tudo é alvo de comentário, num burburinho muito pessoal e íntimo que enerva o mais habituado aos ruidosos encontros de futebol em Portugal.
Taylor e Brown não veriam golos até ao reatar da 2ª Parte. As muitas substituições da praxe encheram a linha lateral, junto ao quarto-árbitro, e foi dos pés de uma jovem opção do banco do United que surgiu o tento inaugural: livre portentoso de Lee Beeson para o fundo das redes do Hull City. Aplausos mereceu, complementados com cânticos de apoio e incentivos por parte dos adeptos. E de tal forma empertigou os apoiantes que a animação passou, qual testemunho, para os seus companheiros de equipa. Tanto que o veterano capitão Talbot haveria de ampliar a vantagem para os da casa e ouvir a maior ovação da noite, perante o sorriso matreiro de Tommy Taylor. 2-0, para gáudio dos fãs de Boston.
O Hull City ainda reduziria a desvantagem já nos últimos minutos, colocando o resultado final em 2-1. Insuficiente para retirar a alegria aos adeptos da casa e insuficiente para impedir que os seus rapazes regressassem aos balneários debaixo de uma chuva de palmas.
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