sexta-feira, 31 de agosto de 2007

COMENTÁRIO DA SEMANA

O MAL DAS LIGAS SUL-EUROPEIAS



ANDRÉ MATOS LEITE



Na Espanha, em Itália e em Portugal, verifica-se que cada vez há uma menor aposta nos jogadores jovens em detrimento de jogadores estrangeiros que, por vezes, são piores do que os nacionais à disposição.



Nos tempos antigos do futebol, os clubes não podiam ter mais de três jogadores estrangeiros. Eram obrigados a apostar nas suas camadas jovens. Actualmente, vivemos com a Lei Bosman. Esta lei permite aos clubes ter um número elevadíssimo de jogadores estrangeiros desde que pertençam à sua região comunitária. Há, também, casos em que existem acordos entre países e regiões ou entre dois países para que possam inscrever mutuamente jogadores que sejam considerados comunitários.


Quero invocar aqui dois exemplos deste nosso novo mundo futebolístico: o exemplo de ligas como a alemã e a inglesa e o exemplo das ligas latinas, como a portuguesa. A Alemanha continua a apostar nos seus jovens e apesar de começar a ter um grande número de estrangeiros, este ainda fica aquém do registado nas ligas sul-europeias. A Inglaterra, à semelhança dos germânicos, aposta nas suas camadas jovens e tem um conjunto de leis que, nos nossos tempos, impedem a contratação de alguns jogadores estrangeiros (caso de jogadores cujo passe não pertence totalmente ao clube onde joga). Na Espanha, em Itália e em Portugal, verifica-se que cada vez há uma menor aposta nos jogadores jovens em detrimento de jogadores estrangeiros que, por vezes, são piores do que os nacionais à disposição.


No nosso país tenho assistido, com grande satisfação, à formação de jogadores promovida pelo Sporting. Pelo menos seis jogadores das camadas jovens do Sporting são já internacionais por Portugal (Ricardo Quaresma, Hugo Viana, Cristiano Ronaldo, Miguel Veloso, Nani e João Moutinho). Mais: enquanto alguns estão já a mostrar a qualidade do nosso futebol pela Europa fora, os outros estão no caminho para esse mesmo sucesso. Fico feliz pelo Benfica ter mostrado, recentemente, estar em condições de contribuir com dois jogadores para esta fornada de jovens formados em Portugal com Miguel Vítor e Romeu Ribeiro. Fico, igualmente, muito satisfeito por ver o F.C. Porto tentar, pelo menos, rentabilizar nomes como Vieirinha, Paulo Machado ou André Castro.


Não tenho nada contra a existência de jogadores estrangeiros nos plantéis portugueses. Sou, sim, contra o seu exagero quando temos jogadores com a mesma qualidade. O necessário é trabalhar esses jogadores como o Sporting tem feito nos últimos anos. Estamos no futebol moderno, no futebol da globalização, no futebol das equipas “globais”. No entanto, acho que se os nossos jovens podem ser tão bons quanto os sul-americanos que hoje nos invadem ou, inclusivamente, melhores do que estes, devemos apostar nessa juventude. Não sou contra os estrangeiros no futebol. Sou contra os estrangeiros que “tapam” espaços que podiam ser ocupados por jovens portugueses com potencial para virem a ser melhores do que eles.

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