terça-feira, 30 de outubro de 2007

REPORTAGEM GAZETA DO FUTEBOL: F.C. PORTO 3-0 LEIXÕES S.C.


A Gazeta do Futebol esteve no Estádio do Dragão a acompanhar todas as incidências de mais um clássico do Grande Porto, e viu a partida através de duas perspectivas: a dos adeptos do F.C. Porto, na bancada dos Super Dragões; e a dos adeptos do Leixões S.C., na bancada reservada para sócios e claque matosinhenses.


DO LADO DO F.C. PORTO



O REGRESSO DE UM «DERBY» REGIONAL HISTÓRICO

PEDRO ROCHA


Primeiros toques na bola, primeiros cânticos. As vozes iam aquecendo, à medida que os jogadores também o faziam no relvado. Ouvem-se os primeiros comentários sobre a constituição da equipa “da casa” enquanto se compõem os estandartes que vão ser levantados na altura da entrada das três equipas. 20 minutos para o apito inicial e a bancada pouco preenchida. O dia de trabalho e a hora a isso convidavam. As poucas pessoas que a compunham andavam em constante rodopio ora colocando fita numa haste para segurar a bandeira, ora ensaiando o bater do tambor. Com o aproximar da partida o estádio foi-se compondo. A bancada dos Super não foi excepção. O primeiro grande aplauso da noite vai para a saída da equipa no fim do aquecimento, como que um ultimo sussurro de motivação ao ouvido de cada jogador.

Pouco tempo depois o espectáculo está prestes a começar. As três equipas entram em campo e as colunas do estádio sopram o Hino do Clube. Momento surpresa: as centenas de adeptos da claque sabe o hino e canta-o com uma emoção e uma vontade de louvar. Com o início do jogo começam os cânticos a sério; todos guiados pelo “seu líder”( como gostam de chamar) cantam a uma só voz as primeiras canções de apoio à equipa. O líder passa 80 minutos do jogo de costas para ele. Inicia os cânticos e puxa pelos mais tímidos ou amorfos. “Quero ver tudo a cantar” foi das frases mais utilizadas por Fernando Madureira ,“o Macaco”, para os super. A equipa da casa empurrada pelos seus adeptos entra forte e aos 5 minutos faz o primeiro golo. A bancada explode de alegria. Os adeptos atiram-se uns contra os outros e a felicidade é total. Talvez por isso se perceba a paixão pelo futebol. Na bancada esquece-se tudo. Durante 90 minutos cada pessoa anónima tem oportunidade de esquecer os problemas e viver só o clube. Mas são só 90 minutos.

“Lisandro Lopez” “Lisandro Lopez” “Lisandro Lopez” “Lisandro Lopez” – foi o grito mais ouvido imediatamente a seguir ao golo como forma de idolatrar o marcador do primeiro.

Os cânticos não pararam com o golo. Todos continuaram a cantar. As músicas de apoio têm uma forte ligação à cidade e à região do Porto. O estilo é inconfundível e as letras só fazem sentido se cantadas com o “sotaque” tripeiro. Quando havia pequenas paragens logo o líder se insurgia a cantar e a acordar toda a companhia. A equipa do dragão ampliou a vantagem pouco tempo depois e a euforia já não foi tão grande. Nada como o encanto do primeiro. Ainda assim festejaram e gritaram a bom som o nome do seu marcador. Ainda que Tarik Sektioui seja um nome manifestamente dificil de dizer. Pior de cantar. 2-0 mas a claque não se calou. “Até ao intervalo sempre a cantar” dizia o líder, e assim foi. Chegado o intervalo foi tempo de refrescar as gargantas ou então aconchegar o estômago. Mais de metade da claque seguiu estes exemplos. A outra metade ficou em amena conversa. Grande parte desta gente conhece-se há longos anos. Acompanham o Porto para todo o lado, e ao compartilharem o mesmo espaço acabam por surgir naturais amizades ou relações de empatia.

Chegado o segundo tempo voltaram os cânticos. Agora com menos intensidade. O jogo já practicamente decidido convidava a isso mesmo. A equipa adormeceu por momentos e ouviram-se os primeiros assobios. Do resto do estádio porque nos super ninguém assobia a equipa. Em resposta a este facto os cânticos ganharam nova vida como que tentando acordar a equipa. Cada jogador tem música personalizada. E com o aproximar tranquilo do fim da partida foi tempo para as cantar. Os 11 jogadores em campo tiveram direito a cântico. Excepto Mariano Gonzalez mas( e quero acreditar que sim) por mero esquecimento. Os jogadores respondiam quando podiam, ou batendo palmas, ou levantando o polegar em forma de agradecimento pela ovação. O final da partida não chegou antes do 3-0 e nova onda de euforia. “Lisandro Lopez Lisandro Lopez” voltou-se a ouvir mas muito mais baixo. O final chegou pouco depois e o aplauso à equipa foi unânime. Os adeptos sairam felizes mas sem grandes loucuras, afinal foi só mais uma no reino do Dragão.

E vão oito.





DO LADO DO LEIXÕES S.C.


SE O APOIO DOS ADEPTOS DESSE VITÓRIAS…



JOSÉ PEDRO PINTO


Foi pouco antes do início da partida, quando as duas equipas perfilavam para a Tribuna Presidencial do Estádio do Dragão, que a festa começou na bancada que albergou, por 90 minutos, os adeptos leixonenses. Com o hino do F.C. Porto em fundo, os matosinhenses ergueram os cachecóis e aplaudiram a sua equipa. “Matosinhos, allez!”, repetido vezes sem conta, durante a partida, ecoou pelo Dragão: era o sinal de que os forasteiros não se tinham deslocado ali para entregar a vitória aos «azuis-e-brancos» de mão beijada. Predominantemente encarnada, a bancada cedo se compôs, e não havia nem uma alma que não pensasse nos 18 anos que já passavam desde o último encontro frente ao F.C. Porto.

O esférico girou, e os primeiros minutos da partida foram fatais: o apoio era incondicional, apaixonante até, mas o F.C. Porto cedo se encarregou de estragar a festa aos cerca de 1500 leixonenses que ao Dragão se haviam deslocado: primeiro Lisandro, depois Tarik a colocarem o score, à passagem do madrugador minuto 8’, em 2-0. Era o desânimo entre os sócios, mas apenas mais uma oportunidade para a claque «Máfia Vermelha» exprimir todo o amor que sentia pelo clube… através da música. Instantaneamente, as gargantas inflamadas pela dor da derrota deixaram de o ser, entoando a plenos pulmões todas as indicações que o líder do grupo lá ia dando através do altifalante.

A equipa do Leixões esboçava uma reacção? Era imediatamente recompensada com palmas e o “Muito bem, pá!” da praxe. Um jogador arruinava uma jogada colectiva com um mau passe? “Eh pá, este gajo é sempre a mesma coisa!”. A paixão do adepto que, bem agasalhado contra o frio lá conseguia bater palmas à exibição pouco inspirada da equipa demonstrava uma só coisa: a esperança em que a 2ª Parte fosse um pouco melhor…

Não o foi, de facto. A reacção ténue continuava, com processos lentos por parte da equipa e os espectadores começavam a ficar impacientes nos seus lugares. “Sabes que mais?”, dizia um deles para o amigo. “Devíamos era ser sócios de um clube que não nos fizesse sofrer. E nem vimos a Carolina (Salgado)!”. Os risos espalham-se a toda a periferia, não obstante a turma que apoiavam não estar numa das suas noites de inspiração. A 20’ do fim, as opções tácticas de cada adepto começavam a surgir, com o alvo preferido a ser o treinador, Carlos Brito. “Como é que uma equipa só remata uma vez à baliza em 90 minutos?!”, lá se conseguiu insurgir um adepto mais “tocado” pela bebida.

80’: o canto final do cisne. Mais uma das jogadas brilhantes de Quaresma, a ir à linha de fundo e a cruzar para a pequena-área onde Lisandro cabeceou, de cima para baixo, fechando o marcador em 3-0. A debandada geral de adeptos leixonenses foi a consequência. Na cabeça de cada um, já estava o próximo jogo. Ainda assim, se uns saíam, a claque ficava até ao fim. Desde o minuto 1’ ao 90’, coloriram o Estádio do Dragão, apresentando-se a 100% e prontos a apoiar a equipa, de forma incansável, até que recolhessem, pela última vez, aos balneários.

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