Em 2006/2007, são quatro as equipas mais eficientes, que servem de benchmark para as outras: Porto, Sporting, Belenenses e Paços de Ferreira. Para 2007/2008, apenas Porto, Estrela de Amadora e Setúbal detêm esse título de clubes mais eficientes. O Porto é a equipa que mais gasta, mas é a que mais pontos conquista. Curiosamente, Paços de Ferreira (na época passada) e Estrela de Amadora (na presente época) são as mais eficientes de todas, detendo o maior rácio ponto por euro gasto em cada época.
NUNO MOUTINHO
Professor da Faculdade de Economia do Porto (FEP)
Desde cedo que os economistas distinguem entre eficácia e eficiência. Neste contexto, se um clube atingiu algum dos objectivos a que se propôs no início da época, ele foi eficaz. Mas será que foi eficiente, no sentido em que gastou o menor número de recursos necessários para atingir esse objectivo? O método aqui proposto para responder a esta pergunta é muito simples, dado o fim a que se destina e dada a falta de informação disponível (apenas temos os orçamentos das equipas da época passada e desta época). Baseia-se nas teorias económicas de análise de eficiência e produtividade, procurando obter uma medida de desempenho relativo de unidades organizacionais semelhantes (clubes), gerando um único indicador de desempenho para cada clube sob avaliação a partir da razão ponderada entre resultados (nº de pontos) e orçamento inicial da época.

Iremos utilizar um método conhecido por DEA (Data Envelopment Analysis), uma técnica não paramétrica que permite construir fronteiras empíricas para observação de um conjunto de Unidades de Tomada de Decisão (UTD), neste caso, clubes de futebol . O objectivo é claro: avaliar o desempenho das UTD individuais e determinar as UTD de referência (benchmarks) para a tomada de decisões. A taxa de eficiência técnica relativa de uma UTD é igual à razão entre a soma ponderada dos outputs e a soma ponderada dos inputs, onde os pesos dos inputs e outputs são seleccionados de forma a maximizar a medida de eficiência da UTD em análise, sujeita à condição de que o conjunto de pesos obtidos desta maneira para cada UTD deve ser também possível para todas as outras incluídas no cálculo. Assim, este método utiliza programação matemática linear para construir a fronteira, uma superfície envolvente de máximo desempenho. Sobre esta superfície de referência, a relação outputs/inputs deve ser a maior possível dentre aquelas observadas. Então o grau de ineficiência de uma observação qualquer do conjunto pode ser avaliado como a distância do seu vector outputs/inputs até à superfície, e a sua medida de eficiência é expressa como uma percentagem da melhor prática. O índice de eficiência relativa, calculado para cada unidade de produção, corresponderá à distância entre o valor da produção realizado e a fronteira de eficiência. A fronteira é composta por secções lineares determinadas pelas combinações convexas do subconjunto de observações eficientes. Cada observação tem um ponto de referência na fronteira em relação à qual seu índice de eficiência é calculado e na qual sua meta é projectada. Logo, os pontos de referência constituem regiões da fronteira nas quais são projectadas as metas eficientes das observações ineficientes. As observações que aparecem com maior freqüência como padrão de eficiência ou benchmark das observações ineficientes são candidatas a ser as mais eficientes dentro do conjunto. Neste estudo, foi utilizada a função distância baseada na orientação produto, ou seja, na capacidade de um clube obter o máximo número de pontos para um dado orçamento disponível. Assim, através do DEA pode-se estabelecer indicadores de desempenho que expressem não apenas níveis de adopção, mas também a combinação e a importância relativa dos outputs/inputs empregados. É possível obter ainda, a quantidade de redução de inputs e acréscimo nos outputs necessários para tornar um clube eficiente, o que possibilita ao gestor efectuar uma calibragem capaz de ajustar estas distorções, diminuindo assim o custo e melhorando os resultados.
Para cada ano, foi assim calculado os indicadores de eficiência. Os resultados da época 2007/2008 foram obtidos através da projecção do número de pontos das equipas à 9ª jornada. Como a seguir serão calculados indicadores de crescimento da produtividade, foram excluídos os clubes que desceram e subiram em 2006/2007.

Em 2006/2007, são quatro as equipas mais eficientes, que servem de benchmark para as outras: Porto, Sporting, Belenenses e Paços de Ferreira. Para 2007/2008, apenas Porto, Estrela de Amadora e Setúbal detêm esse título de clubes mais eficientes. O Porto é a equipa que mais gasta, mas é a que mais pontos conquista. Curiosamente, Paços de Ferreira (na época passada) e Estrela de Amadora (na presente época) são as mais eficientes de todas, detendo o maior rácio ponto por euro gasto em cada época.
Para perceber a evolução de uma época para a outra, foram calculados índices de Malmquist para cada clube. Esse índice foi inicialmente sugerido em 1953 por Malmquist num contexto de consumo, mas foi introduzido no contexto da produtividade por Caves em 1982 que o expressou em termos de funções distância. Índices de Malmquist maiores do que 1 indicam crescimento de produtividade, enquanto valores menores do que 1 apontam para declínio de produtividade. Para além disso, a decomposição do índice de Malmquist permite identificar as contribuições de mudanças de eficiência e de inovações tecnológicas para a produtividade. Por exemplo, os clubes podem estar mais produtivos pelo facto da função de produção (a tal que define os clubes eficientes) ter melhorado, por progresso técnico. Por outras palavras, os clubes podem estar mais produtivos pelo facto dos que são mais eficientes conseguirem obter mais pontos com os mesmos custos, o chamado efeito know-how. O cálculo deste índice trouxe algumas surpresas:

Em média, há um decréscimo de produtividade, apesar do aumento médio da eficiência dos clubes. Tal explica-se pelo efeito de regressão tecnológica verificado no futebol português: a fronteira de produção recua em quase 35%. Tal significa que, em média, os clubes mais eficientes estão a gastar mais para obter o mesmo número de pontos. Assim sendo, o crescimento de produtividade que houve é a custa de uma excelente crescimento de eficiência. Poucos clubes são mais produtivos: Porto (cresce 20%), Marítimo (28,5%) e Académica (38,5%) são os únicos a terem um crescimento da produtividade. Os casos da Académica, com 115% e do Marítimo (quase o dobro da eficiência) são por demais evidentes. O Marítimo gasta mais, mas aumenta mais do que proporcionalmente o número de pontos. Já a Académica aumenta ligeiramente o número de pontos, mas reduz significativamente o seu orçamento. Em sentido inverso estão o Leiria e o Naval, com fortes quebras da produtividade, pela falta de eficiência demonstrada.
Gostaria de concluir esta análise, chamando a atenção para o carácter simplista do estudo efectuado, mas que permitiu tirar fortes conclusões, identificando as equipas mais eficientes da liga portuguesa e apontando no sentido da regressão tecnológica do nosso campeonato.
1 comentário:
Como estudante da FEP, achei esta análise extremamente interessante, congratulando-me, por outro lado, com o facto do FC Porto estar na liderança ou perto disso nas várias medidas de desempenho.
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