sexta-feira, 25 de abril de 2008

ESTA SEMANA, ESCREVO EU...




ESTARÃO OS PORTUGUESES CEGOS?




Acho que temos um problema em Portugal. Cegamos facilmente. Aqueles que amamos, nunca erram. Aqueles que odiamos, ou que simplesmente invejamos, só podem jogar mal e, se todos vêem que joga bem, ao primeiro erro é logo crucificado.




ANDRÉ MATOS LEITE




Com a difusão da Internet nasceram as edições online dos diários desportivos e os diários online. Desde esse momento, sempre gostei de acompanhar, não só as notícias “frescas” dos jogos, mas também os comentários dos leitores. No entanto, cada vez mais acho estranhas algumas das opiniões exibidas pelos adeptos do desporto-rei.

Comecemos pelo mais recente. Anteontem disputou-se o Barcelona – Manchester United. Jogo a contar para a Liga dos Campeões, mas que não contou com a habitual emoção de uma partida europeia. Cristiano Ronaldo falhou um penalty aos três minutos. A maioria dos comentários que li, após o fim dos 90 minutos, pretendiam passar um atestado de incompetência ao português dos «red devils». “Ainda falta muito para ser o melhor”, “não joga nada contra os grandes”, “esteve o jogo todo sem fazer nada” eram alguns dos comentários que se podiam ler. Mas será que há tanto adepto que só ouviu falar da grande penalidade falhada? Será que já não conta mais nada? O jogo todo Ronaldo esteve sozinho no ataque. Foi clara a táctica do Manchester. Manter o jogo controlado na defesa e, caso surgisse oportunidade para tal, colocar a bola no número 7 para tentar o contra-ataque. O madeirense falhou um penalty, mas foi um penalty no meio de todos os golos (de penalty, livre e jogo corrido) que já marcou. E o jogar mal, é preciso distinguir do jogar sozinho contra cinco. Foi o que Ronaldo fez no ataque inglês.

Outros dois casos que não compreendo são mais caseiros. Primeiro, não entendo porque é que após os jogos dos clubes portugueses, principalmente do Benfica, são mais os comentários de afectos aos clubes rivais do que ao próprio clube que jogou. Será que os adversários directos são mais importantes do que o nosso próprio clube? Afinal o que conta mais no futebol? A felicidade pela grandeza da nossa equipa ou o gozar um rival ferido?

O segundo caso prende-se com um jogador do nosso campeonato. Ricardo Quaresma é sem dúvida um virtuoso, um daqueles atletas com uma habilidade ímpar para conseguir jogadas e fintas e remates que maravilham até os que desgostam de ouvir o seu nome. Mas será ele tão bom assim? Serão assim tão poucos os que percebem que o seu individualismo causa mais males do que toda a sua habilidade causa bem? Contra o Shalke, teria o Porto sido eliminado se Quaresma tivesse jogado em equipa em vez de tentar entrar com a bola na baliza rival?

Acho que temos um problema em Portugal. Cegamos facilmente. Aqueles que amamos, nunca erram. Aqueles que odiamos, ou que simplesmente invejamos, só podem jogar mal e, se todos vêem que joga bem, ao primeiro erro é logo crucificado. Porque não tentar analisar os acontecimentos tal como eles são? Porque não tentar analisar todos os clubes de forma imparcial? Se disser que o meu clube jogou mal serei menos adepto por isso? Não! Sou, antes pelo contrário, muito mais adepto porque, para se poder gostar de um clube, é preciso primeiro amar o futebol.

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