segunda-feira, 1 de outubro de 2007

REPORTAGEM GAZETA DO FUTEBOL

DIAS DE FORMAÇÃO NO SALGUEIROS






As mágoas do passado e a nostalgia dos grandes feitos ainda não foram esquecidas, mas, agora, o presente é que interessa e aquilo a que se dá mais importância.



JOSÉ PEDRO PINTO



2005: um ano que ficará para sempre cravado na mente de todos os salgueiristas. Em Setembro desse ano, a direcção do Sport Comércio e Salgueiros anunciava o fim do futebol profissional, assinalando o término de uma das modalidades que mais alegrias deu aos seus sócios (a par do pólo aquático).

Passados pouco mais de 2 anos, é a equipa de Juniores do clube a assumir a posição de «cabeça-de-cartaz»: são os jovens jogadores do Salgueiros que, domingo a domingo, vestem a camisola vermelha e o calção branco e entram em campo para defender essas mesmas cores.

A data de 30 de Setembro de 2007 não foi excepção. O adversário é o Oliveira do Douro, de Gaia. O local é o Campo do Atlético de Rio Tinto. O período que antecede a entrada em campo das equipas permite uma maior composição da bancada coberta (a chuva também picou o ponto…), mas também dá o mote para o rescaldo do Benfica-Sporting da véspera, com recurso à imprensa desportiva diária e aos comentários sobre a arbitragem. A familiaridade entre adeptos mantém-se, tal e qual como no “velhinho” Vidal Pinheiro, antigo estádio do Salgueiros. “Bom dia! Então por aqui, mais uma vez?”, lá conseguiu dizer uma senhora, ao mesmo tempo que subia os degraus da bancada.

Os pais também lá se encontram, não perdendo um desafio dos seus pupilos, mas revestem-se de uma capa de pragmatismo quando é hora de ver quem é incluído no onze inicial. A exigência (não de perfeição, mas de entrega ao jogo) impera e nem o treinador é poupado assim que as equipas se aprontam para dar o pontapé de saída.

Logo após o apito do árbitro, os primeiros incentivos e as primeiras palmas para a equipa ficam-se… pelos minutos iniciais. A curiosidade de saber o que se passa no restante mundo do futebol e as recordações do passado tomam as rédeas do discurso dos adeptos: a rivalidade com o Leixões, o debate sobre quem é mesmo salgueirista de “gema”, os grandes produtos desta mesma formação, em anos anteriores, o estado da arbitragem nacional – “pior do que no ano passado!” – são desde logo interrompidos pelo elemento mais idoso da bancada. A mesma senhora que saudou efusivamente todos quantos se encontravam naquela bancada, lá acaba por virar as atenções para dentro de campo: “estamos aqui para ver o Salgueiros, e não para falar de penaltys!”. E, logo de seguida, um dos lances de maior perigo de todo o encontro provoca a emoção, mas também o riso pelo facto de a bola acertar duas vezes no ferro da baliza e ser cortada em cima da linha de golo. “Não se deve gritar golo antes da bola entrar, caramba!”, lá consegue dizer mais um adepto, no meio de gargalhadas. Os pais vibram com os filhos, que se encontram, in loco, no pelado fustigado pela chuva a tentar dominar o esférico da melhor maneira possível.



Ainda assim, não é possível esconder a mágoa e a raiva latente pela gestão danosa da anterior administração presidida por José António Linhares. Os sócios evitam falar desse assunto, qual tabu, mas a mesma senhora idosa lá consegue ganhar coragem para sussurrar mais algumas notícias em «primeira-mão» à jovem que a acompanha.

Na 2ª Parte, mais do mesmo: apoio incansável e incentivos às grandes jogadas da equipa; críticas e expressões de desilusão no momento de perder um golo certo ou uma bola em zona proibitiva. Tal como o erro que haveria de permitir o golo do Oliveira do Douro.

A partir daqui, o público transforma-se mesmo no famigerado 12º jogador. Aplaude o avanço da equipa em campo e perdoa um outro erro que lá se fosse dando, não perdendo, no entanto, a oportunidade de criticar de uma forma verdadeiramente hostil a arbitragem do encontro. “Estes árbitros têm todos medo das equipas de Gaia, pá!”, vocifera um adepto mais inflamado.

O empate nunca deixa de estar no horizonte tanto de jogadores como dos seus familiares, mas o tempo de jogo escassseia e o desespero começa já a fazer das suas junto de todos quantos vibram com a partida. A 5 minutos do fim, uma imagem paradigmática do adepto que deixou de poder assistir a encontros da equipa sénior, aos domingos à tarde, mas que ainda acompanha a vida do futebol de formação. Levanta-se do seu lugar e despede-se dos restantes: “Bem, vou a Leça do Balio ver os iniciados”.

O jogo termina pouco depois. Os jovens jogadores do Salgueiros saem derrotados (em quatro jogos, registam duas derrotas, um empate e uma vitória) mas os aplausos permanecem durante largos segundos. “A culpa é desta arbitragem. Levaram o Oliveira do Douro ao colo!”, continua a vociferar o adepto inconformado com o resultado.


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