sábado, 27 de outubro de 2007

REPORTAGEM GAZETA DO FUTEBOL

UMA NOITE COM O “LIGA VITALIS”





O programa Liga Vitalis, que vai para o ar todas as terças-feiras no Porto Canal, é único no que toca a acompanhar os denominados “parentes pobres” do nosso futebol. A Gazeta do Futebol foi assistir, na última terça-feira, nos bastidores, a tudo o que faz mexer um dos segmentos com maior sucesso deste canal regional.


JOSÉ PEDRO PINTO


São 21h45m – o programa principia às 22h – e o primeiro convidado a chegar aos estúdios do PortoCanal é Paulo Costa, árbitro internacional. Não admira: a transmissão de hoje incidirá sobre o actual momento da arbitragem. De seguida, o moderador e a cara de todo o programa, Bernardino Barros, desce a escadaria que dá acesso à recepção do canal, envergando um fato escuro e uma camisa branca, sem gravata. Está munido do alinhamento do “Liga Vitalis” e cumprimenta Paulo Costa de forma amistosa: “Isto está atrasado, pá! Vamos lá a ver se nos despachamos…”.

A entrada em estúdio processa-se de forma rápida. O cenário, predominantemente claro, contrasta com o escuro que caracteriza o fundo deste espaço. Operadores de câmara a postos, técnicos de som de microfones em punho, assistentes de realização dando os últimos retoques nos pormenores. Bernardino Barros e Paulo Costa sentam-se à mesa, faltando os restantes três convidados: José Leirós, Isidoro Rodrigues (ex-árbitros) e José Neto (Professor e Metodologista de treino físico). “Vamos avançando, senão nunca mais começamos e eu quero despachar isto!”, desabafa Bernardino, comunicando com a régie através do auricular, pouco antes de ajudar a produção a testar todos os microfones.

Entra em estúdio José Neto, e Bernardino Barros parece aliviado por vê-lo: “ Professor, vamos embora, despache-se!”, vai dizendo com um sorriso pelo meio e um cumprimento rápido. “Isto não é o «NJogadas», pois não?”, responde o Professor, sob a forma de uma questão, aludindo ao célebre programa de debate sobre futebol da extinta NTV.

Leirós e Isidoro tiveram falta de atraso… mas conseguem chegar a tempo do início da transmissão. Apressados, lá se sentam, e, às 22h03m, Bernardino Barros dá o tiro de partida para uma hora de conversa: “Boa noite e bem-vindos a mais um «Liga Vitalis», numa semana sem campeonato. Espaço para uma paragem e reflexão no sector da arbitragem”.

Está dado o mote. Num programa em que o tema principal foi intercalado com resumos da Taça da Liga e o concurso «Penalty Cup» (os telespectadores marcam “penalties” através das teclas do telefone), os temas que vão marcando a actualidade da arbitragem juntam-se a uma mesa e são discutidos de uma forma algo informal. Paulo Costa aborda as dificuldades deste sector, José Leirós a gestão da arbitragem jovem, José Neto as metodologias de treino dos juízes e Isidoro Rodrigues a necessidade de haver apenas um modelo de gestão para toda a arbitragem. Bernardino Barros introduz as questões em tom coloquial, desprendidas de qualquer tipo de tabus, e atribui ao programa um cariz familiar, pondo à vontade os seus convidados.

Fora do ar, quando passam os resumos da Taça da Liga, a postura séria e comprometida com o estereótipo de uma transmissão televisiva em directo dá lugar ao relaxamento nas cadeiras, a risos e gargalhadas sobre situações banais do dia-a-dia mas também a uma autêntica amena cavaqueira à qual nem os três operadores de câmara conseguem escapar. Curiosidades (Paulo Costa gabava-se, a José Neto, de ter sido o introdutor dos célebres centros de treino para árbitros…), mais críticas lançadas à gestão da arbitragem… e, de novo, no ar.

Agora, a profissionalização. Sob o olhar atento e a capacidade de Bernardino Barros em alimentar o debate, os intervenientes nesta conversa lá vão opinando sobre a matéria. Paulo Costa deseja a semi-profissionalização da arbitragem, porque se coaduna com a “realidade nacional”; José Leirós prefere abordar a “clivagem” da arbitragem sob a égide de Vítor Pereira; José Neto termina o seu discurso com a frase forte de todo o programa – “O árbitro continua a ser o herói do jogo”.




22h57m: ponto final em mais um «Liga Vitalis». “Não vale a pena olhar para o relógio”, vai dizendo Bernardino Barros, ao encarar a câmara e o telespectador. “Os minutos acabam, mas prometemos voltar para a semana, já com o campeonato a rolar”.

Desligam-se as câmaras e os microfones; continua o painel a conversar, agora em verdadeiro off. A boa disposição que reinava no início continua a imperar no epílogo de mais uma transmissão. Levantam-se das cadeiras e de pronto os assistentes de realização se apressam numa súbita mudança de cenários.

Em relação a promessas, Bernardino Barros não fez só uma: ficou ainda assente a ideia de um debate mais alargado no tempo sobre o tema da arbitragem. Faltou definir a data.



3 QUESTÕES A BERNARDINO BARROS

GAZETA DO FUTEBOL: Como é que se têm “portado” as audiências do programa?

BERNARDINO BARROS: Depende muito dos temas, mas posso dizer que varia muito entre mínimos e máximos. Em termos de share, anda à volta dos 8%-11%. O primeiro pico dá-se das 22h às 22h30m e, depois, há um decréscimo porque dão os resumos da “Liga Vitalis” entre esse espaço de tempo e, depois disso, as pessoas desligam completamente. Estamos a gostar imenso de fazer este programa e, ao contrário do que foi sendo dito, este é o único programa que vai dando atenção à Liga de Honra portuguesa. A Liga de Clubes disse, no início da época, que haveria de surgir um programa nos mesmos molde que o nosso. Ainda não apareceu…


G.F.: A estratégia de uma “conversa familiar” que vem reiterando, programa a programa, é o grande segredo para o sucesso deste programa?

B.B.: É isso mesmo! Eu não vou convidar as pessoas para este espaço, que durante uma hora é a minha casa, para as tratar mal. Tenho que lhes dar hipótese de conversar, para que estejam à vontade para falar como se estivéssemos num café a discutir o fenómeno desportivo que é o futebol. Não é necessário que se fale mal; é necessário que se discuta, no bom sentido, tudo isto.


G.F.: Uma hora é pouco tempo para este programa?

B.B.: Em algumas situações sim, noutras não… No de hoje, por exemplo, penso que faltou tempo para abordar outras questões como a implementação das novas tecnologias e outros assuntos. Mas quando se começa a falar de arbitragem, é sempre assim: nunca se consegue esgotar os temas de conversa!

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