sábado, 1 de dezembro de 2007

O MÊS EM REVISTA



RESSACA



BERNARDINO BARROS

(Editor de Desporto do PortoCanal)


«Ressaca» está definido no dicionário como “regresso ao estado inicial”. Foi o que fez a selecção de Portugal, que partiu para a qualificação como favorita ao apuramento para o Euro 2008, e que após 14 jogos, conseguiu os seus objectivos. Não de uma forma fácil (o lugar comum diz-nos que não há jogos/adversários fáceis), diria até de forma sofrida e a que já não estávamos habituados. Até por isso foi um regresso ao estado inicial, ao tempo de esperar pela última jornada para alcançar o objectivo final.


Portugal caiu num grupo designado “fácil”, porque tinha selecções consideradas inferiores no aspecto futebolístico, por isso, éramos considerados favoritos ao primeiro lugar do grupo. Alcançamos o segundo lugar mercê de 7 vitórias, 6 empates e 1 derrota, e conseguimos o apuramento. O que não conseguimos foi vencer qualquer dos jogos com as equipas que eram consideradas como as mais capazes para contrariar o favoritismo luso: Polónia, Finlândia e Sérvia. Scolari aponta razões como a renovação da equipa portuguesa, as lesões e a juventude de alguns jogadores, para que o apuramento fosse mais difícil de concretizar. Tem razão nos factos apresentados e são, a meu ver, irrefutáveis. Tal como tem razão quando diz que nem sempre se pode jogar bem e o importante é ganhar. Só que em toda esta campanha nunca a selecção foi uma equipa. Foi acima de tudo uma soma de individualidades, que muito raramente conseguiram funcionar colectivamente, e aí residiu e reside o cerne da questão.


Expliquemos.


A selecção foi construída em 2004 em cima de um núcleo duro criado e mecanizado por José Mourinho – Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho, Nuno Valente, Costinha, Deco e Maniche. Juntando a estes a classe de Figo e o talento de Cristiano Ronaldo, tínhamos uma selecção de classe. Nuno Valente foi acossado por lesões, as tais que o departamento médico do FC Porto tinha prognosticado que lhe trariam problemas, porque não tinha capacidade para fazer tantos jogos consecutivos. Contestou-se tal veredicto, mas afinal parece que tinham razão. Paulo Ferreira e Ricardo Carvalho foram vítimas de lesões ao serviço do Chelsea, que os impediram de ser tão assíduos como se pretendia. Costinha e Maniche deixaram de fazer parte das escolhas de Scolari, que nunca explicou a razão do afastamento, não confirmando se os motivos eram os tão propalados actos de indisciplina. Costinha foi votado ao ostracismo pelo “sargentão” e nunca regressou, até porque para o seu lugar foi encontrado Petit, jogador tão forte a defender como Costinha, mas melhor a atacar. Maniche foi ressuscitado nesta fase final da qualificação, uma “muleta” a que Scolari deitou mão para tentar erguer um meio campo que se desmoronara com as lesões de Deco e Petit.


Figo disse adeus depois do Mundial da Alemanha, tal como o fez o melhor goleador da selecção portuguesa, Pauleta. Restava a Scolari construir uma equipa, apoiando-se nos sobreviventes das lesões, na capacidade de Cristiano Ronaldo e dos novos valores que foram aparecendo, mas que teimosamente o seleccionador ignorava. João Moutinho, Bosingwa, Bruno Alves, Tonel, Miguel Veloso, Quaresma, Hugo Almeida, eram nomes que há muito reclamavam uma chamada à selecção, entrando nela à medida que os “mininos de Scolari” iam desaparecendo por lesão. São apenas factos, que o número de jogadores utilizados nesta fase de qualificação (35) vem provar.


Resta a esperança que o tempo que Scolari vai ter antes do Europeu seja suficiente para, de uma plêiade de jogadores talentosos, conseguir fazer uma equipa.


O mês vai começar com o clássico da Luz, onde o FC Porto vai mais uma vez com vantagem pontual de quatro pontos e uma vantagem psicológica grande. Como disse Bosingwa, o Benfica que se atire para cima dos dragões, mas não vá com “demasiada sede ao pote”, porque uma derrota encarnada na Luz deixaria as águias de garras aparadas e a rasar baixinho.


No final do próximo mês cá estaremos para mais uma crónica. Até lá, um NATAL FELIZ para os mentores da Gazeta do Futebol, e para todos os leitores deste espaço. São os votos do




Bernardino Barros

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