sábado, 26 de janeiro de 2008

FUTECONOMÊS *







Não tenhamos ilusões: no contexto nacional, apenas os 3 grandes são capazes de gerar receitas avultadas. Então, como se compreende a existência de um regulamento em que os 3 grandes, na primeira jornada em que competem, são obrigados a jogar fora, num jogo de tudo ou nada, decidido, se for caso disso, nas grandes penalidades? Não se entende.



NUNO MOUTINHO
Professor da Faculdade de Economia do Porto (FEP)




A Carlsberg Cup é uma competição organizada pela Liga para, essencialmente, gerar elevadas receitas adicionais aos clubes profissionais. Como o acréscimo de custos é muito ligeiro (organização dos jogos, prémios a jogadores), esta competição teria benefícios líquidos altíssimos. Na expectativa de Hermínio Loureiro, em 3 anos, seriam gerados 10 milhões de euros de receitas, provenientes de receitas comerciais, televisivas e de bilheteira.


Na minha opinião, a menos que se altere o modelo desta competição, tal não será possível. Não tenhamos ilusões: no contexto nacional, apenas os 3 grandes são capazes de gerar receitas avultadas. Então, como se compreende a existência de um regulamento em que os 3 grandes, na primeira jornada em que competem, são obrigados a jogar fora, num jogo de tudo ou nada, decidido, se for caso disso, nas grandes penalidades? Não se entende. O Porto foi eliminado na primeira vez que jogou. O Sporting e o Benfica só ganharam os seus jogos por mero acaso! Como seria a taça da liga sem os grandes, logo na primeira jornada? E qual é o interesse de termos na fase de grupos apenas um grande? Quantas pessoas assistiram ao vivo e na televisão ao Beira-Mar contra o Penafiel ou o Penafiel contra o Setúbal?


Temos que ser realistas: para maximizar as receitas, há que encontrar um modelo que promova a existência dos 3 grandes na fase de grupos e não o contrário. Só assim se maximizará as audiências, a visibilidade dos patrocinadores, as receitas de bilheteira. Podem sempre mudar o regulamento da taça de Portugal para promover a festa do futebol e obrigar a que as equipas de escalões superiores joguem na fase dos de escalão inferior.


Agora, definir um regulamento deste tipo para uma competição cujo objectivo claro é maximizar os proveitos financeiros, simplesmente não faz sentido! Se imaginarmos que essas receitas são um bolo, há que procurar obter o maior bolo possível, para depois o podermos fatiar pelas equipas profissionais. Mesmo que os grandes recebam uma fatia maior (o que já acontece neste modelo), certamente que as fatias dos clubes pequenos seriam maiores, ao longo dos anos, do que as que vão receber no actual modelo, mesmo para aqueles que cheguem mais longe na competição.



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- Por imperativos pessoais, o Professor Nuno Moutinho só esta semana se pôde debruçar sobre o número de Janeiro do FUTECONOMÊS. Pelo sucedido, pedimos desculpa aos leitores mais assíduos desta crónica.


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