ESTA SEMANA, ESCREVO EU…

RICARDO NA BALIZA PORTUGUESA

A pergunta tende a ecoar neste “cantinho à beira-mar plantado”: Ricardo merece a titularidade na baliza portuguesa durante o Euro-2008? A minha resposta é sim. Não nos devemos perder em picardias mesquinhas e esquecer que Ricardo foi um dos responsáveis pelas maiores alegrias que os portugueses já tiveram com a nossa selecção.

PATRÍCIA MARTINS

A titularidade de Ricardo no próximo Europeu voltou à baila ontem, na grande entrevista concedida por Scolari à RTP, no programa conduzido por Judite de Sousa.

Há muito que é contestado pelos portugueses e as críticas ao guardião são já habituais ao longo da sua carreira. Contudo, esses maus momentos de contestação são sempre arrebatados por enormes alegrias que Ricardo traz a todos os apoiantes da selecção Portuguesa.

Há um ano que o número um das quinas trocou o Sporting pelo Bétis, no país vizinho. As boas exibições, jogo após jogo, e o evitar de derrotas, por vezes humilhantes, para o clube de Sevilha valeram-lhe boas críticas por parte da imprensa espanhola e dos adeptos béticos.

Em Portugal, os mais reticentes face ao sucesso do guarda-redes defendiam-se com a fraca posição que o Bétis ocupava, a verdade é que Ricardo era peça fundamental naquela equipa e nunca deixou por mãos alheias o seu trabalho.

No entanto, no final do mês de Março o labreca (como é carinhosamente conhecido) lesionou-se no ombro esquerdo e não jogou frente ao Osasuna. Nessa mesma semana foi convocado para jogar por Portugal. Apresentou-se ao médico da selecção e conseguiu recuperar a tempo do jogo frente à Grécia.

O treinador do Bétis, Paco Chaparro, não gostou de ver Ricardo a jogar com a camisola das quinas e decidiu castigá-lo, remetendo-o para o banco de suplentes durante as partidas que se seguiram.

É verdade que o guarda-redes contestou a decisão do treinador, mas também é certo que o jogador sempre foi um bom profissional, disponibilizando-se sempre para jogar, mesmo com dores. Se Ricardo defrontou os gregos foi por estar recuperado e em perfeitas condições para o fazer, como aliás apontaram os médicos.

Scolari tem razão quando diz que merece um “puxão de orelhas” pela forma como o guardião reagiu perante o técnico. Mas quem não tem instinto de reagir quando vê o seu profissionalismo ser alvo de injustiças?

Na última quarta-feira a baliza do Bétis foi devolvida a Ricardo e, mais uma vez, este deu o melhor de si, realizando uma boa exibição.

A pergunta tende a ecoar neste “cantinho à beira-mar plantado”: Ricardo merece a titularidade na baliza portuguesa durante o Euro-2008? A minha resposta é sim. Não nos devemos perder em picardias mesquinhas e esquecer que Ricardo foi um dos responsáveis pelas maiores alegrias que os portugueses já tiveram com a nossa selecção.

Scolari concerteza também não vai esquecer isso. Como deu para ver pela entrevista concedida ontem, o “sargentão” pretende deixar esclarecida a sua postura no que diz respeito às reacções, mas nada apaga os bons procedimentos do guarda-redes no campo e no balneário: «Não é por ele não ter jogado que me esqueci do Ricardo», afirma Scolari.

O Seleccionador Nacional nunca deixou pesar nas suas convocatórias a titularidade dos atletas nos seus clubes. Exemplos disso, num passado recente, foram os casos de Quim (Benfica), Deco (Barcelona) ou mesmo Hélder Postiga (F. C. Porto). Não entendo porque tantas pessoas se mostram incomodadas por Scolari não ter dúvidas a convocar Ricardo. Dois pesos e duas medidas?

Ricardo sempre foi uma figura fácil para muitos portugueses fazerem recair os seus ódios. Mas o número 1 português sempre foi dono de uma vontade inquebrável de regressar ao topo, calando todas as vozes que se levantam constantemente contra si. Sabe trocar críticas por sorrisos e festejos e no meio de tudo isso quem fica a ganhar é Portugal. E isso é que importa.