sexta-feira, 24 de agosto de 2007

COMENTÁRIO DA SEMANA

HONESTIDADE, POR FAVOR!


JOSÉ PEDRO PINTO


Que direito terão os jornalistas da imprensa escrita desportiva de basear a sua análise aos árbitros por intermédio de imagens televisivas, quando assistem, no estádio, a todas as incidências da partida? Confesso que isso me parece apenas uma falta de ética e de profissionalismo por parte de pessoas que deveriam tentar ser o mais honestas possíveis nas abordagens que milhares de pessoas lêem todos os dias.


Quando uma equipa de arbitragem entra em campo, alheia-se de um grande mecanismo que pode “ajudar” a melhorar o seu trabalho: imagens televisivas repetidas até à exaustão, com ângulos sobrepostos em ângulos inversos, tecnologia digital e virtual e interactiva. Uma equipa de arbitragem torna-se, no centro do terreno de jogo, uma ilha isolada de tudo o resto, com os seus elementos apenas interligados por bips de bandeirolas e um sistema de comunicação áudio (que promete dar que falar…).

Quando uma equipa de reportagem entra numa Tribuna de Imprensa, tem também alguns mecanismos com que pode trabalhar: computadores portáteis, fotos instantaneamente enviadas pelos fotógrafos que se encontram à flor do relvado, blocos de notas e, ah… imagens televisivas para escalpelizar todos os erros cometidos pelo quarteto que habitualmente dirige uma partida de futebol.

Conclusão: ambas as partes não estão em pé de igualdade.

Que direito terão os jornalistas da imprensa escrita desportiva de basear a sua análise aos árbitros por intermédio de imagens televisivas, quando assistem, no estádio, a todas as incidências da partida? Confesso que isso me parece apenas uma falta de ética e de profissionalismo por parte de pessoas que deveriam tentar ser o mais honestas possíveis nas abordagens que milhares de pessoas lêem todos os dias.

Tive a oportunidade de efectuar a reportagem do Leixões – S.L. Benfica, da 1ª Jornada da Bwin Liga. A análise do trabalho da equipa de arbitragem que mentalmente esbocei, ao sair do estádio, foi a mesma após ter chegado a casa e ter visto o resumo do jogo, na TV. Houve erros de arbitragem, é certo! Mas, em consciência, não alterei uma vírgula ao que havia percepcionado, in loco, no Bessa. Decidi colocar-me ao mesmo nível a que os quatro juízes se encontravam, lá em baixo no relvado.

Pena é que muitos dos nossos – grandes – jornalistas não o façam…

1 comentário:

Anónimo disse...

"Que direito terão os jornalistas da imprensa escrita desportiva de basear a sua análise aos árbitros por intermédio de imagens televisivas, quando assistem, no estádio, a todas as incidências da partida?". Em resposta à questão, não considero que haja um direito, mas sim um dever. O jornalista tem o dever de informar e não de proteger árbitros ou outros intervenientes. Claro que também não deve contribuir para humilhações ou linchamentos públicos. Mas se o jornalista dispõe de meios que mostram objectivamente e com mais fiabilidade o que efectivamente se passou, tem o dever de apontar o que esses mesmos mecanismos lhe permitem ver.Mesmo que isso implique que, semana a semana, os árbitros fiquem normalmente mal na fotografia.Só que ao jornalista não compete desculpar os erros, compete indicá-los.
Os árbitros, tal como os jornalistas, erram. Mas quando o jornalista erra, quando se engana numa peça, quando evidencia impreparação, os árbitros não vêm dizer que o jornalista estava pressionado pelo tempo, que não tinha os recursos necessários para estudar convenientemente o assunto, and so on and so on..Os árbitros, como qualquer ser humano, vêm que o jornalista falhou. Os porquês são outra questão. Até podem interessar mas esquecem-se facilmente. Agora, o erro, esse fica. Tal como os árbitros, cumpre aos jornalistas aproveitar a existência de provedores atentos às suas prestações e a partir das suas chamadas de atenção evoluir. Jornalismo = objectividade, doa a quem doer...a meiguice fica para as educadoras de infância;)