segunda-feira, 5 de novembro de 2007

ENTREVISTA GAZETA DO FUTEBOL

2ª Parte


MANUEL TAVARES


“O QUE SE PEDE É QUE NÓS, JORNALISTAS, SEJAMOS QUALIFICADOS E HONESTOS"



DIANA VASCONCELOS
(em trabalho especial para a Gazeta do Futebol)



GAZETA DO FUTEBOL: É do conhecimento público que o Manuel Tavares é portista. Acha que isso é um pretexto para que o jornal seja visto como um meio que serve os interesses do FCP?

MANUEL TAVARES: Em relação a isso só lhe digo que ninguém põe em questão o facto do Marcelo Rebelo de Sousa ser do PSD e comentar política no principal canal público de televisão. As pessoas são sempre de algum partido, de algum clube, de alguma religião. O que se pede é que sejamos profissionalmente qualificados – e honestos acima de tudo. Provavelmente, as pessoas que são declaradamente de um partido ou de um clube até acabam por ser mais cuidadosas. Até certa altura, os árbitros de futebol diziam todos que eram da Académica ou do Atlético. A partir do momento em que deixou de ser problema um árbitro assumir a sua condição de adepto temos visto árbitros portistas, benfiquistas ou sportinguistas apitar jogos dos seus clubes de preferência e nem por isso o fazem com mais erros que anteriormente, quando negavam esse afectos para não serem afastados dos grandes clássicos.


G.F.: Pois, mas se eles erram e calham de beneficiar aquele que é o seu clube, mesmo sem querer, vão ser acusados…

M.T.: Pois, mas os erros acontecem não por se ser portista, benfiquista ou sportinguista. Os erros são produto das circunstâncias ou de má qualificação profissional ou da falta de ética.


"NÃO ME PARECE QUE AMANTES DE DIRIGENTES POLÍTICOS INTERESSEM AOS LEITORES D' O JOGO"



G.F.: Quais são os critérios editoriais d’O JOGO?


M.T.: O primeiro é que notícia é notícia e opinião é opinião.


G.F.: Às vezes misturam-se…

M.T.: Às vezes misturam-se, sim. Quando se está a escrever um relato de futebol tem de estar lá a nossa opinião, senão o relato seria a mera constatação dos factos que vão do minuto 0 ao 90 e isso seria insuportável para o leitor de hoje que, antes do jornal, já sabe tudo, ou quase tudo, do que aconteceu pelas rádios e pelas televisões ou pela NET..
Outro critério editorial central é o do respeito pela vida privada das pessoas, pela sua intimidade. Só entramos nesse círculo íntimo desde de dentro dele surja matéria de evidentíssimo interesse público, o que no caso de O JOGO geralmente tem a ver com implicações na expressão pública dos desempenhos desportivos. Não me parece que amantes de dirigentes políticos sejam matéria de interesse para os leitores de O JOGO.
Outro critério é o de que se alguém é acusado é preciso ouvi-lo antes de noticiar. Nem sempre é possível em tempo útil, mas quando isso acontece temos de insistir nas horas e até dias seguintes. Mesmo sabendo que há quem prefira desligar o telemóvel.
Também é nosso princípio editorial criar todas as condições para a igualdade de tratamento dos emblemas e esta é uma questão muito sensível entre os três grandes.


G.F.: O JOGO tem duas edições.


M.T.: Começamos por ter duas edições porque era impossível produzir no Porto e fazer o jornal chegar ao Algarve às sete da manhã. A partir desse dado, a nossa Redacção em Lisboa ganhou uma autonomia tal que hoje as duas edições são distintas no plano editorial. Alterámos as primeiras páginas e o próprio alinhamento noticioso, mas isso não quer dizer que noticiemos de uma modo para o Norte e de outro para o Sul.


"O «RECORD» TEM UMA POSIÇÃO QUE É A DE FALAR MAL DO FUTEBOL"



G.F.: Jornalismo objectivo é o que se deve dar aos leitores, mas o sensacionalismo é, muitas vezes, o que vende. Como encara e ultrapassa esta dualidade?

M.T.: Pois, não ultrapasso porque não creio que a comunicação social possa comportar-se como vanguarda do que quer que seja, muito menos dos valores éticos e estéticos. Estamos a passar por uma fase em que a sociedade consome muito sensacionalismo mas acho que esta etapa vai passar porque as pessoas vão cansar-se das tricas. E acho mais: a imprensa sensacionalista vai ter um problema maior do que a imprensa clássica quando isso acontecer. Os sinais estão aí: os escândalos começam a surgir na Internet muito antes de poderem ser impressos. Ainda agora o Mourinho tentou impedir com uma providência cautelar que um escândalo impresso nas páginas do Sun chegasse a Portugal, e enquanto ele andava a tentar evitar isso o escândalo já circulava em montes de sites.


G.F.:
Então, como é que o Record, acusado de ser sensacionalista, vai sobreviver?

M.T.: O Record tem uma posição há anos que é a de falar mal do futebol. É evidente que o futebol tem todos os pecados e todas as virtudes de todas as outras áreas sociais, mas tem uma coisa que as outras áreas não têm: paixão. A paixão torna o futebol quase sanguinolento e o Record tem ido por aí..


G.F.: Sempre teve paixão pelo jornalismo?

M.T.: Sempre. Mesmo quando estava a tirar o curso de engenharia electromecânica.


"JÁ NÃO ME APETECE TRABALHAR MUITO MAIS..."



G.F.: Alguma vez pensou chegar onde chegou?

M.T.: Não, nunca. Fui convidado pelo senhor Joaquim de Oliveira para ser director d’O JOGO quando ainda estava no Público. Convidou-me para jantar, disse-me que provavelmente ia comprar O JOGO e perguntou-me se eu queria o cargo. Disse-lhe que achava que não tinha feitio nem jeito para a função, mas ele é muito persuasivo e ao fim de meia hora estava convencido que seria o melhor director para O JOGO. Já trabalhava há uns 8 anos no Público e já não havia coisas muito excitantes a fazer e isso também me levou a aceitar o convite. Na altura, O JOGO era distribuído duas vezes por semana, depois passou a três e ainda a cinco antes de ser diário. Voltou à origem porque quando nasceu, há 20 e tal anos, O JOGO foi o primeiro jornal desportivo diário.


G.F.: Acha que a sua carreira acaba aqui?


M.T.: Espero bem que sim, já não me apetece trabalhar muito mais. (risos)


G.F.: De todos os sítios onde já trabalhou, qual foi o que lhe ofereceu experiências mais positivas?

M.T.: Evidentemente que foi O JOGO porque é um filho meu. Quando cheguei aqui este jornal era uma coisa morta. O JOGO vendia cerca de 8 mil exemplares. Agora vende na casa dos 40 mil.


G.F.: Foi um processo longo…

M.T.: Foi longo e nunca vai acabar. O difícil não é ganhar um campeonato. O difícil é ganhar dois, três e mantermo-nos no topo.



clique aqui: 1ª Parte desta entrevista

1 comentário:

Vânia Monteiro Dias disse...

erro no destaque. repetição :P